terça-feira, 1 de setembro de 2009

VILA TELEBRASÍLIA: Aqui tem história

Vilas Pioneiras

RESISTÊNCIA
CANDANGA
















Moradores dos primeiros acampamentos da cidade transformam em definitivo o que era para ser provisório


HISTÓRIA DA VILA TELEBRASÍLIA: 53 ANOS


Ruas de terra são marca da Vila Telebrasília


O livro Êstes Construíram Brasília, de abril de 1960, é exibido pela dona de casa Maria Machado Meireles, 71 anos, como prova inconteste de uma história de vida. Em uma das páginas, aparece o nome do marido, Francisco Danilo Ferreira Meireles, 65, entre aqueles que ajudaram a construir a capital. Projetista, Francisco foi contratado pela Novacap três anos antes da data prevista para a inauguração de Brasília. ‘‘Fomos desbravadores daquele cerrado sem fim. Memória viva de tempos difíceis’’, conta Maria.

Além da publicação, ela ainda mantém de pé, nos fundos do terreno onde mora, uma outra relíquia do passado. Parte de uma casa em madeira erguida no início da década de 60. Ali, a pioneira, Francisco e os dois filhos moraram desde quando chegaram ao Planalto, vindos do Rio de Janeiro.

‘‘Era uma poeira vermelha que subia e sujava toda a louça, mas aquela época teve suas compensações. A gente podia dormir de porta aberta’’, recorda.

Se na Vila Planalto as casas de madeira da época da inauguração são poucas, nem se fala na Vila Telebrasília, o antigo Acampamento Camargo Corrêa, criado para abrigar os funcionários da empresa.

O barraco no lote de Maria é um das raras construções que restam no lugar, situado na Avenidas das Nações, às margens do Lago Paranoá. Hoje, as construções de alvenaria estão por toda parte e a única coisa que remete aos primeiros anos da história do local são as ruas de terra — já que o asfalto ainda não chegou por lá.

Em 1963, o acampamento foi desativado pela empreiteira e vendido para o Departamento Telefônico Urbano e Interurbano (DTUI). Depois, foi transferido para a Companhia Telefônica de Brasília (Cotelb) e, em seguida, para a Telebrasília. Daí, vem o atual nome do local.

Ao longo da década de 70, várias famílias foram transferidas para o Guará e Ceilândia.

Alguns moradores permaneceram. Na época, eles já pensavam na fixação do bairro, mas encontraram muita resistência. A questão ganhou contornos políticos e até hoje ainda não está totalmente resolvida. ‘‘Foram anos de sofrimento.

Meus filhos trabalharam muito para ajudar a construir Brasília. Não era nada justo tirar a gente daqui’’, opina Francelina Maria dos Santos, 90 anos, que saiu de Jardim do Seridó, Rio Grande do Norte, para acompanhar os filhos que vieram para o Planalto em busca de trabalho.

Mais do que as raras construções do passado, Francelina e a carioca Maria são referências da história do acampamento. Contam as histórias pitorescas, lembram de seus personagens, falam — com muito orgulho — da luta pela permanência. ‘‘Sempre reivindicamos o direito de permanecer porque fazemos parte de Brasília. Somos história também’’, afirma Maria.

REPORTAGEM : (Marcelo Rocha - Arquivo)

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